A escola ensina e a família educa

Há algum tempo, meu filho apresentou a mim um texto que me emocionou profundamente. Era um artigo, de um autor desconhecido, que tratava da educação rigorosa que certas mães dão aos filhos e como aquela atitude formava o caráter, criava valores para a vida toda e norteava os garotos e as garotas em idade escolar. O texto com o título “As Mães Más” é narrado na primeira pessoa, como um testemunho de alguém que sofreu com o rigor da disciplina, mas que se tornou um adulto educado e um ser humano de princípios.

Reporto-me ao texto para exemplificar quão importante é o papel dos pais na formação do caráter das crianças, e como determinados valores não se aprende nos bancos das escolas. A escola tem o seu papel como formadora educacional, no entanto, o pilar fundamental da formação de um ser humano se dá dentro de casa, na família.

E para matar a curiosidade dos que estão se perguntando sobre o conteúdo do texto, peço licença para resumi-lo e apresentar um trecho que diz assim: “Um dia, quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de lhes dizer: eu os amei o suficiente para ter perguntado onde vão, com quem vão e a que horas regressarão? Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia. (…) Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam seu quarto; tarefa que eu teria realizado em quinze minutos. Eu os amei o suficiente para deixa-los ver além do amor que eu sentia por vocês: o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos. Eu os amei o suficiente para deixa-los assumir a responsabilidade de suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiram o coração. (…) Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci… Porque no final vocês venceram também! E qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e as mães, meus filhos vão lhes dizer, quando lhes perguntarem se sua mãe era má: sim… Nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo. As outras crianças comiam doce no café e nós tínhamos que comer cereais, ovos e torradas. As outras crianças bebiam refrigerantes e comiam batatas fritas e sorvetes no almoço, e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. E ela nos obrigava a jantar à mesa. Bem diferente de outras mães, que deixavam os filhos comerem vendo televisão. Ela insistia em saber onde nós estávamos a toda hora. Era quase uma prisão. Mamãe tinha que saber quem eram os nossos amigos e o que fazíamos com eles. Insistia que lhe disséssemos que íamos sair, mesmo que demorássemos só uma hora ou menos. Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violou as leis do trabalho infantil. Nós tínhamos de lavar a louça, fazer a cama, lavar a roupa, aprender a cozinhar, aspirar o chão, esvaziar o lixo e todo tipo de trabalhos cruéis. (…) Por causa da nossa mãe, nós perdemos imensas experiências da adolescência. Nenhum de nós esteve envolvido em roubos, atos de vandalismo, violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa dela. Agora que já saímos de casa, nós somos adultos honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos pais maus, tal como nossa mãe foi.

Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje; não há mães más suficiente.”

 

Dina Magalhães
Jornalista e Editora-chefe da Revista Cidade Verde

 

Márcia Dias

Direção Pedagógica